quinta-feira, 23 de maio de 2013

DR.RUY MESQUITA - JORNAL O ESTADO DE SÃO PAULO

 


Familiares, amigos, políticos, empresários e personalidades despediram-se do diretor de Opinião do 'Estado' com uma salva de palmas


23 de maio de 2013 | 0h 27

Um cortejo de 15 minutos entre a casa no Pacaembu e o Cemitério da Consolação, netos se abraçando e carregando o caixão até o jazigo, um longo momento de silêncio emocionado de todos – e, ao final, uma salva de palmas. Essa foi a última homenagem e o adeus da família, dos muitos amigos, de políticos e personalidades a Ruy Mesquita, 88 anos, diretor de Opinião do Estado. Ao fim de seis décadas dedicadas ao jornalismo e à defesa da liberdade de imprensa, "Dr. Ruy" morreu de câncer, na terça-feira, no Hospital Sírio-Libanês.
 

 
Despedida. Amigos e familiares se abraçam durante sepultamento no Cemitério da Consolação - Tiago Queiroz/AE
Tiago Queiroz/AE
Despedida. Amigos e familiares se abraçam durante sepultamento no Cemitério da Consolação

A despedida, iniciada na manhã de ontem no velório na casa onde morava, foi marcada por elogios de toda parte. "Vai deixar um vazio enorme. Espero que as gerações sucessivas continuem essa mesma chama", disse o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, ao lembrar que o conhecia há 60 anos. Ao seu lado, o ex-governador José Serra afirmou que Ruy Mesquita "fazia um jornalismo de alta qualidade" e "era um homem de posições definidas".
Também emocionado, no fim da cerimônia, o cineasta e colunista do Estado Arnaldo Jabor elogiava seu empenho na defesa da liberdade de imprensa como "uma das coisas mais importantes do mundo" e concluía: "Quero ter uma vida como a dele: excepcional".
Nas 15 horas entre o anúncio de sua morte e o sepultamento, dezenas de coroas de flores e mensagens chegaram à família – entre elas as da presidente Dilma Rousseff, de governadores como Sérgio Cabral (Rio de Janeiro), Antonio Anastasia (Minas Gerais), Jaques Wagner (Bahia) e Beto Richa (Paraná), de instituições, artistas, ministros, publicitários. Um ritual que começou já na madrugada da quarta-feira, quando netos, sobrinhos e muitos amigos da família começaram a se juntar na casa, onde o velório ainda começava a ser preparado.
Na manhã de ontem, um dos primeiros a chegar à casa, Rodrigo Mesquita – um dos quatro filhos do "Dr. Ruy" – definiu o pai como "o último grande jornalista do século 20".
Ponto de referência
"Ele deixa a lição de que a missão do jornal é perene", acrescentou Rodrigo. Segundo ele, "os jornais nunca vão competir com a audiência da televisão, a audiência da internet, nada disso". O jornal, pontuou, "é uma plataforma de articulação da sociedade". "Você encontra ali um retrato diário e hierarquizado do conjunto das informações que nos preocupam. Jornalismo não é só distribuir informação. Precisa ter um ponto de referência para uma discussão, uma reflexão de onde estamos e para onde vamos. É assim que ele olhava o jornal e assim que nós vamos continuar olhando o jornal também", disse Rodrigo. Por toda a manhã, a casa esteve cheia. Ali estiveram, entre tantos, José Roberto Marinho, vice-presidente de Responsabilidade Social das Organizações Globo, Lázaro Brandão, do conselho administrativo do Bradesco, os ex-ministros Celso Lafer, Rubens Barbosa, Mailson da Nóbrega, Miguel Jorge e Andrea Matarazzo; Fábio Barbosa, presidente executivo do Grupo Abril, o porta-voz da Presidência da República, Thomas Traumann, e o presidente do Conar, Gilberto Leifert. Os publicitários Nizan Guanaes, Washington Olivetto e Luiz Lara também deram adeus ao jornalista.
'Norte'
O governador Geraldo Alckmin referiu-se aos editoriais do "Dr. Ruy" no Estado como "um norte da política e da economia" e afirmou que seu espírito público foi "o grande legado para as novas gerações de jornalistas". O prefeito Fernando Haddad o definiu como "uma pessoa sempre aberta a ouvir argumentos, a refletir e a estabelecer um bom debate".
Para o diretor-presidente do Bradesco, Luiz Carlos Trabuco, uma de suas grandes marcas foi "acreditar na democracia e na possibilidade de as pessoas serem livres".
Vários jornalistas foram despedir-se de Ruy Mesquita – entre eles Ali Kamel (TV Globo), Fernando Mitre (TV Bandeirantes), Eugênio Bucci, (ESPM e colunista do Estado), William Waack (TV Globo).
Otavio Frias Filho, diretor editorial da Folha de S.Paulo, o descreveu como "um exemplo de compromisso com a liberdade, com padrões de excelência, qualidade editorial, preocupação com o interesse público".
Exéquias
O velório se encerrou por volta de 14h30, com 20 minutos de oração conduzidos pelo cônego Antônio Aparecido Pereira – o padre Cido, que representava o cardeal-arcebispo d. Odilo Pedro Scherer. O cardeal, que visitou Ruy Mesquita e rezou por ele no Hospital Sírio-Libanês no domingo à noite, não pôde desmarcar um compromisso e pediu a padre Cido que manifestasse solidariedade à família em nome da Arquidiocese.
O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, o governador Alckmin e o prefeito Haddad, que haviam chegado pouco antes, participaram das orações, ao lado de amigos da família, entre os quais o professor João Carlos Di Genio, reitor da Universidade Paulista (Unip) e presidente do Grupo Objetivo.
"Convido a todos a agradecer pela vida do "Dr. Ruy" e pelo bem que ele fez ao País", disse o padre Cido, ao recitar salmos e trechos do Novo Testamento. "Que nossas lágrimas sejam de saudade e não de tristezas, porque a morte não é um momento de perda, mas de ressurreição."
Dona Laurita (Laura Maria Sampaio Lara Mesquita), que foi casada com Ruy Mesquita por 64 anos, acompanhou a cerimônia final sentada ao lado do caixão, amparada pelos quatro filhos – Ruy, Fernão, Rodrigo e João –, noras e netos.


Veja também:
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