Milionária mexicana oferece terreno e põe fim a ocupação em SC

Renan Antunes de Oliveira
Do UOL, em Florianópolis
  • Renan Antunes de Oliveira/ UOL
    Bicicleta, geladeira e outros objetos são deixados no local da Ocupação Amarildo, nesta terça-feira (15)
    Bicicleta, geladeira e outros objetos são deixados no local da Ocupação Amarildo, nesta terça-feira (15)
Acabou na tarde desta terça-feira (15) o impasse entre a Ocupação Amarildo e a Justica Agrária de Santa Catarina. Os líderes da invasão concordaram em levar as 500 famílias, acampadas há 120 dias às margens da rodovia SC401 para sete hectares cedidos por uma milionária mexicana a uma paróquia de Maciambu, na Grande Florianópolis. A área foi vistoriada e aceita pelos invasores.
A doadora mexicana não foi identificada. Segundo apurou o UOL, ela financia de forma anônima o Instituto Kairós. A doação foi feita por uma procuração apresentada pelo padre Luiz Prim.
A  ocupação causou grande tensão em Florianópolis nos últimos dias, depois que os assentados fecharam a rodovia várias vezes. A tentativa de invadirem outra área no sábado (12) levou a PM  a cercar a Amarildo.  A Justiça Agrária fixou prazo ate a meia-noite desta terça para saída dos acampados.
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Ocupação em SC é comandada por garçons e cozinheiros de praias badaladas8 fotos

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13.abr.2014 - Beatriz (à esq.), 25, é copeira no hotel de luxo Costão do Santinho e mora com o marido (à dir.) e dois filhos num quarto e sala onde paga R$ 800. Ela quer "uma casinha para minha família" - o marido e os filhos estão fora do acampamento. As famílias dos garçons, dos cozinheiros e dos faxineiros dos restaurantes das melhores praias da ilha de Santa Catarina formam o núcleo principal dos 700 acampados (número deles), ou 350 (na versão da Polícia Militar), da Ocupação Amarildo, no norte de Florianópolis Leia mais Renan Antunes de Oliveira
Apesar da retórica de enfrentamento, os líderes da invasão, pertencentes à organização de esquerda Brigada Marighella (referencia ao guerrilheiro morto em 1969 pela ditadura militar), aceitaram mediação de última hora da Igreja, feita pelo padre Luiz Prim, de uma entidade de assistência a usuários de drogas da Grande Florianópolis.
Não ficou claro se a nova área será definitiva. O Incra não participou das negociações.
Segundo Rui Fernando Filho, a mediação com resultado pacifico "foi uma vitória da luta, mas ainda vamos ter de consolidar o novo local".
A decisão de desfazer o acampamento foi tomada em assembleia dos invasores, na manhã de hoje. Em seguida, enquanto uma comissão foi vistoriar as terras da mexicana, os demais começaram a desmontar os barracos.
Os assentados não aceitaram negociar com o juiz agrário Rafael Sandi, depois que ele deu uma entrevista no domingo (13) no quartel da Polícia Militar de Santa Catarina, entre dois comandantes da corporação.
Segundo Pepe Silva, da Brigada, "esta Justiça está a serviço dos poderosos e do Estado, ela quer entregar a terra a grileiros" -- referência às dúvidas sobre a propriedade da terra. Segundo  a Superintendência de Patrimônio da União (SPU), a área da Amarildo pertence à União e não aos supostos proprietários, que requereram  a reintegração judicial em andamento.
O juiz Sandi disse que não interessa quem é o proprietário, nem se a terra é da União: "Isto deve ser objeto de outra ação, na Justiça Federal".
Segundo Pepe, "este é o verdadeiro conflito, que as pessoas não percebem. Nós ocupamos uma área grilada por um ex-deputado arenista [Artêmio Paludo], lá em 1979. Ele e seus sócios iam fazer um campo de golfe nas terras públicas. Se nos não tivéssemos invadido, ninguém ficaria sabendo e eles consumariam a grilagem".
O advogado Sergio Gomes, representante do ex-deputado estadual da extinta Arena Artêmio Paludo, 82 anos, disse que vai provar na Justiça que a terra é dele.