sexta-feira, 7 de março de 2008

IMPRENSA : a globalização chega às máfias



02/04/2008

FONTE : FOLHA ONLINE - 02 ABRIL 08.

O dinheiro ilícito: a globalização chega às máfias
O crime organizado movimenta 20% da economia mundial, segundo o FMI. Os principais dirigentes dessa economia ilícita são os oligarcas russos. Em 20 anos, apesar da luta ferrenha contra a droga, houve uma ascensão das máfias

Andy Robinson
Em Madri

Proibição draconiana da droga e permissividade absoluta de toda atividade empresarial e financeira. Este poderia ser um bom resumo da agenda global dos EUA e do G-7 nos anos 1980 e 90, acelerada depois da queda da União Soviética.

A proibição apresentou uma chamada guerra contra as drogas nas selvas da América Latina e a prisão maciça de jovens -principalmente afro-americanos- nos EUA. O modelo de criminalização americano foi exportado com a padronização global de leis contra o tráfico de drogas e a lavagem de dinheiro, e com a criação de uma Força-Tarefa de Ação Financeira (FATF na sigla em inglês) para lutar com grande êxito contra a lavagem de dinheiro.

Ao mesmo tempo, exportava-se o modelo anglo-americano de liberalização financeira, desregulamentando enormes fluxos de capital enquanto equipes de economistas de Chicago aterrissavam na antiga URSS e seus satélites para ajudar reformistas como Igor Gaidar na privatização-relâmpago de suas economias.OS NÚMEROS DO CRIME
1,75 trilhões de euros são movimentados pelo narcotráfico no mundo
Rússia: Em meados dos anos 90 havia 11.500 empresas privadas de segurança, com 200 mil empregados armados. Eliminar um rival nessa época custava 5 mil euros, 8 mil se tivesse guarda-costas.

Colômbia: A cocaína só representa 3% do PIB, mas 60 mil pessoas estão armadas (sem contar o exército) devido ao narcotráfico.

Afeganistão: A heroína contribui com 57% do PIB afegão.

Dubai: Centro mundial de lavagem de dinheiro: cerca de 1,7 bilhão de euros saíram dos EUA para Dubai depois do 11 de Setembro.

China: Os traficantes ganham 40 mil euros por imigrante que vai da China para a Europa ou os EUA.

Brasil: São Paulo é um dos principais centros da cibercriminalidade, que custa aos bancos 60 milhões de euros por ano.

A SITUAÇÃO NA RÚSSIA

Vinte anos depois, fica claro que essa combinação particular de proibição e liberalização coincidiu com uma ascensão inédita do crime organizado e uma economia na sombra tão globalizada quanto a do McDonald's e da Toyota, uma economia responsável por 1 em cada 3 ou 4 euros gastos em escala mundial (entre 17% e 25% do PIB mundial), segundo estimativas do FMI. "É difícil quantificar, mas o dinheiro ilícito alcança bilhões de dólares", disse John Carlson, da FATF.

Grande parte dessa economia criminosa -explica Misha Glenny em seu novo livro "McMafia"- é administrada por máfias, muitas delas em países ex-comunistas, que financiam uma ampla gama de atividades criminosas: tráfico de heroína, cocaína, carros roubados, armas, prostituição, órgãos humanos, animais exóticos em risco de extinção...

Glenny nos apresenta uma galeria terrível de personagens que habitam essas economias sem lei e que fazem sua própria história universal da infâmia. Como Tsvetomir Belchev, chefe de uma máfia de tráfico de mulheres que contrata garotas como camareiras na Bulgária e as obriga a trabalhar na chamada rota da vergonha de prostituição entre a Alemanha e a República Checa. Ou Dawood Ibrahim, o gângster indiano de Bombaim que aproveita o colapso do socialismo de mercado de Nehru para traficar primeiro com ouro e depois drogas, e transformou Dubai no centro mundial de lavagem de dinheiro. Ou Leonid Kuchma, o mafioso ex-primeiro-ministro da Ucrânia, que mandou liquidar um jornalista: "Deportem o imbecil e o tirem do caminho". Seu cadáver apareceu meses depois.

Mas os verdadeiros chefões são os oligarcas russos mais ou menos ligados a mafiosos, que aproveitam tanto as privatizações -denunciadas como "saque de bens públicos" pelo prêmio Nobel de economia Joe Stiglitz-, quanto o tráfico de drogas e de armas. Em meados dos anos 90, calcula Glenny, até 50% da economia russa eram negras, Moscou era a cidade com mais Mercedes-Benz matriculadas no mundo. Custava 5 mil euros eliminar um rival. Agora estamos na fase de "internacionalização desse capitalismo gângster russo", diz Glenny. A queda da URSS e os mercados mundiais pouco controlados causaram um incrível crescimento do crime organizado nas últimas duas décadas.

O proibicionismo ajudou os gângsteres quase tanto quanto o laissez-faire. Ao erradicar a coca em um país, ela se deslocou para outro. Enquanto os EUA armavam a Colômbia, no Canadá se cultivava maconha até um número equivalente a 5% do PIB da província da Columbia Britânica. Israel é hoje o centro mundial de produção de ecstasy. Pablo Escobar morreu, mas depois de quase 40 anos de guerra contra a droga "o consumo e a dependência são mais altos que nunca", indica Glenny. A guerra contra o terror teve um efeito semelhante no Afeganistão, onde o cultivo da heroína cresceu de forma espetacular.

Por tudo isso, "não é descabido pensar que em vez de proibir as drogas e permitir a livre circulação de capitais, se deveria fazer justamente o contrário", explica o criminologista Michael Woodiwiss, da Universidade de Bristol. "Seria preciso aplicar duras regulamentações sobre os mercados financeiros". Os americanos deveriam saber disso: "Durante a proibição (do álcool) e permissividade financeira, o crime foi endêmico". Quem pôs fim a ele não foi Elliot Ness, mas a regulamentação do mercado, a criação do FBI e em geral as políticas sociais do New Deal de Roosevelt.

Tradução: Luiz Roberto Mendes Gonçalves

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R U S S I A

02/04/2008
O dinheiro ilícito: a situação na Rússia
"Sem a ajuda do crime organizado não haveria transição russa para o capitalismo", afirma Misha Glenny, autor de "McMafia, o Crime sem Fronteiras"

Pedro Vallín
Em Madri

Dá as costas para uma janela que vai do piso ao teto. O erro foi perguntar a Misha Glenny se ele tem medo. Quem teme por sua vida não dá as costas para a janela de um andar baixo. Qualquer um diria que esse jornalista britânico tem seus motivos. Acaba de lançar "McMafia, o Crime sem Fronteiras" (edição espanhola pela ed. Destino), uma revisão terrível do crime organizado global, que começa com a queda da União Soviética e a decomposição da Iugoslávia e repassa o funcionamento e a trajetória das principais organizações mafiosas do planeta. Glenny é afável, mas leva muito a sério o que diz e fala com gravidade para dissipar ambigüidades morais: conviveu com muitos gângsteres e alguns deles lhe pareceram francamente simpáticos.

É surpreendente como as máfias aparecem na Rússia e na Europa do Leste para suprir um Estado que desmoronou.

O vazio deixado por esses Estados ao despencar é enorme, pois eram administrações que ocupavam todas as esferas da vida das pessoas, especialmente no caso da URSS. Ao abrir-se o modelo para uma economia liberal, os agentes econômicos, os empresários, precisam que haja um controle dos acordos, garantias de que os contratos serão aplicados, mas o Estado desapareceu e não pode zelar pela lei. De modo que essas máfias aparecem como proteção para os empresários.

CRIME ORGANIZADO
GLOBALIZAÇÃO DAS MÁFIAS
Leia abaixo a entrevista com o autor.
La Vanguardia - "Parteira do capitalismo", como o senhor a chama no livro.
Misha Glenny - Sim, nada teria se movido na economia russa sem a atuação das máfias. E quando digo "proteção" é exatamente isso. Não foi um caso de extorsão contra empresários, mas os próprios proprietários das empresas procuraram os gângsteres para que cuidassem do funcionamento da economia.

LV - É considerado algo necessário pelos cidadãos?
Glenny - Bem, na Rússia a maior parte da atividade foi reassumida pelo Estado com Putin. O grande urso despertou e percebeu que estavam comendo seu mel, e Putin se dedicou a restaurar a autoridade do Estado e o fez como se faz na Rússia: sendo mau. Leve em conta que a Rússia sempre foi um lugar muito seguro. Inclusive durante os seis anos da guerra dos bandos mafiosos dos anos 90, nos quais houve muitos assassinatos, as vítimas eram membros das organizações e a sensação de insegurança não foi transmitida para o resto dos cidadãos. Não é a mesma coisa que em outros países com grande atividade do crime organizado como a África do Sul ou o Brasil. O caso da Sérvia é mais complicado, mas se eu fosse mulher passearia mais tranqüila à noite pelas ruas de Belgrado do que pelas de Londres.

LV - A utopia anarquista morreu: o Estado ou a máfia.
Glenny - (Risos) Bem, não sei se eu diria tanto, mas no caso do bloco soviético posso assegurar que não haveria transição para o capitalismo sem o crime organizado.

LV - É chocante a visão sinistra que se tem de Putin na Europa diante do retrato que o senhor faz.
Glenny - Bem, Putin só poderia chegar dez anos depois da transição russa. É preciso considerar que para dezenas de milhões de cidadãos russos a década de 1990 foi um autêntico pesadelo; basta dizer que a esperança de vida diminuiu para 58 anos. Tudo desmoronou, os bancos, a segurança. Putin se propôs construir a partir dessa decepção e recuperar a autoridade para o governo, mas não se livrou das máfias, e sim as colocou sob o teto, sob a tutela do Estado.

LV - Na Europa Ocidental é simplesmente um homem que fecha o registro do gás.
Glenny - Creio que a Rússia está entrando em uma terceira fase na qual Putin e Medvedev se propuseram limpar o setor energético de seu país tanto de máfias como da influência estrangeira. Putin sabe que não pode competir com os EUA em uma corrida armamentista, mas sim de energia. As pessoas dizem na Europa Ocidental que é pouco democrático, mas mantemos o comércio energético com a Arábia Saudita, que não pode ser considerada um paradigma de sociedade democrática. Não devemos pensar que a Rússia com o gás e o petróleo vá provocar uma disputa com a UE. Elas são obrigadas a coexistir. Vai ser ruim para a Ucrânia e a Geórgia, que estão no meio.

Tradução:

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E NO MATO GROSSO DO SUL

“Pistolagem” elimina advogados
CRIME ORGANIZADO
No Mato Grosso do Sul, a luta incessante da Justiça contra o crime organizado e suas ramificações

PERCIVAL DE SOUZA - Especial para o "Tribuna"

DOURADOS (MS) — Protegido dia e noite por policiais fortemente armados, dentro de casa ou no fórum, o juiz federal Odilon de Oliveira, titular da 3ª Vara Federal, contabiliza, como único magistrado com jurisdição no Mato Grosso do Sul, por chefiar uma unidade judicial que apura com exclusividade, no Estado, casos de lavagem de dinheiro, os estragos do ano feitos nos alicerces do crime organizado: cerca de 130 condenados (o número oscila perma-nentemente), 11 extraditados, 300 processos e in-vestigações em andamento, 124 condenados a penas de 947 anos de prisão, 14 aviões e 188 veículos apreendidos.
O drama solitário do juiz Odilon, que chegou a dormir dentro do fórum de Ponta Porã, na fronteira com o Paraguai, não é mais o único no Estado. Recentemente, três advogados foram assassinados. E o juiz e o promotor da Vara de Execuções Penais de Dourados, cidade onde está instalada uma peni-tenciária de segurança máxima, a 225 quilômetros da capital, foram ameaçados de morte por bandidos ligados ao crime organizado.
O advogado Nilson Francisco da Cruz, 45 anos, foi executado por dois pistoleiros quando chegava à casa dele em Dourados. Era casado, tinha cinco filhos e trabalhava na área trabalhista. Antes dele, em Campo Grande o advogado William Maksoud foi atingido por vários tiros dentro do escritório. Morreu dias depois em uma UTI. Se sobrevivesse, ficaria paraplégico. Na mesma cidade, o advogado Sérgio Franzoloso foi degolado por um invasor, à mesa de trabalho do escritório. William tinha clientes perigosos, ligados a uma ramificação do PCC (a organização criminosa Primeiro Comando da Capital). Consta das investigações que ele teria prometido coisas que não conseguiu cumprir e foi morto por isso. De uma forma ou de outra, a pistolagem corre solta no Mato Grosso do Sul.
O juiz Odilon de Oliveira, sob escolta permanente de agentes federais, afirma que a ação dos pistoleiros é ostensiva. “O tráfico de drogas, por ser um crime organizado e por compor um tipo de crime que quer manter a hegemonia e poder de mando, é sempre vinculado a pistoleiros. O tráfico não sobrevive na fronteira sem a pistolagem”, diz. O juiz informa que nesses casos o traficante não consegue impor o seu poder “sem que haja um instrumento adequado para romper alguma barreira e esse instrumento é justamente a pistolagem, uma coisa corriqueira na fronteira com o Paraguai”. Segundo Odilon, os criminosos usam os pistoleiros não só para mandar matar, “mas também para proteção pessoal deles em relação a um grupo rival e, às vezes, proteger-se até da Justiça ou da ação policial”. Consternado, o juiz admite que “na fronteira isso já é um tipo de serviço sistematizado e até normal, pela repetição, pela contumácia, tanto que a opinião pública já se acostumou com esse tipo de ocorrência”.
Em casa, sem direito a lazer e privacidade maior, o juiz federal admite, cabisbaixo, que “para o traficante, a vida de um policial ou juiz que combata o crime na fronteira vale menos que a vida do cachorro ou um quilo de cocaína”. E mais: “O sujeito mata aqui e foge para o Paraguai, mata lá e foge para cá. A atuação conjunta desses dois países deixa muito a desejar, quer no crime comum, transfronteiriço, quer no crime organizado.” O olhar do juiz demonstra uma profunda tristeza. “O magistrado, como eu, vai se enfiando num funil. Depois, não tem mais retorno com relação à segurança e obter novamente a liberdade de andar na cidade, dirigir... Quem enfrenta o crime organizado hoje, quem olha no olho do criminoso, se não se proteger... morre mesmo”, adverte. Odilon de Oliveira revela amargura e afirma que “ninguém quer se ver cercado por policiais 24 horas por dia. Os policiais dormem dentro de casa, como no meu caso. Há quase três anos a Polícia Federal dorme aqui”, revela. Mesmo assim, diz que não pode “e nenhum juiz pode, e muito menos o Estado pode, se ajoelhar, curvar os joelhos diante de bandidos”.
Em Dourados, o juiz estadual das Execuções Penais, Celso Schuch Santos, descobriu-se com seus telefones grampeados por presos da penitenciária de segurança máxima “Harry Amorin Costa”. Também foi informado de que queriam matá-lo, ameaça extensiva ao promotor Renzo Siufi. Passou a viver com escolta permanente. Por trás dessa situação, está, uma vez mais, a pistolagem. De acordo com o juiz, “os pistoleiros acabam ganhando prestígio dentro desse mundo da criminalidade e acabam por se profissionalizar. Há omissão do Estado, porque não poderíamos permitir que as demandas sejam resolvidas como na Lei de Talião, olho por olho, dente por dente. Quando há alguma diferença, o Judiciário deve integrar a mediação das questões”.
Vivendo a realidade das execuções penais e também a do Tribunal do Júri, o juiz Celso Schuch armazenou experiência suficiente para examinar com profundidade essa situação anômala. “Dentro de um tipo de profissionalismo, o pistoleiro passa a ‘trabalhar’ para grupos de pessoas poderosas, mais abastadas, que quando querem resolver algum problema sem recorrer ao Judiciário, porque sentem medo de não serem vitoriosos na demanda, vão buscar o pistoleiro. E este vai ganhando um certo prestígio, tornando-se extremamente frio e covarde. A única habilidade profissional dele é poder matar sem o remorso, que evidentemente qualquer um que mata deve sentir”, resigna-se.
O juiz Celso Schuch admite que, “lamentavelmente”, existe uma tabela de preço para matar dentro da lei paralela do gatilho. “A vida humana não tem muito valor”, revela e informa que “nos julgamentos do Tribunal do Júri, muitas vezes somos surpreendidos pelos valores que são pagos para execução de crime de pistolagem. Dois, três mil reais, ou um pouco mais. O valor varia de acordo com a pessoa que deverá ser executada. Pode chegar a 30, 40 mil reais”. Sobre a própria situação, Celso Schuch comenta que “ não adianta matar um juiz, porque virá outro e cada vez melhores, cada vez mais ocupando o espaço que pertence ao Estado”.
A idéia de que só corre
risco de vida quem trabalha na área criminal dissolveu-se na região. Perder uma causa trabalhista pode significar uma despesa muito alta. Se o advogado for intransigente e quase sempre recusar um acordo, pode ser morto. Parece ser o caso do advogado Nilson Francisco da Cruz.
O juiz diretor do fórum do Trabalho, Renato Miyasato de Faria, diz não acreditar em coincidência e acredita “que haja indícios por causa da profissão da vítima. “Seria uma ingenuidade dizer que efetivamente houve relacionamento direto entre o crime e causas trabalhistas. Mas como os indícios são muito grandes, há necessidade de verificar em conjunto.” Sobre eventuais suspeitas em decorrência de certos processos, diz que “seria leviano dizer se foi fulano, beltrano ou ciclano. Até já disse para o representante da OAB, em tom de brincadeira, que a diferença entre matar o advogado e matar o juiz é tão somente a tabela de preço”.
O assassinato do advogado Nilson da Cruz, que era conselheiro da OAB local, levou a Dourados o presidente do Conselho Federal da entidade, Roberto Busato (“foi muito grave, atinge a todos nós a violência chegar a esse ponto”). Enquanto o presidente da 4ª subseção da OAB em Dourados, Gervásio Scheid, alerta que “somente a cúpula da segurança estadual teima em não enxergar que o bandido e o crime organizado estão vencendo a queda de braço com a sociedade”.
A advogada Virgínia Santana de Figueiredo, presidente da Comissão de Ética e Prerrogativas, prefere não ter dúvidas sobre a motivação do assassinato do colega. Diz que “só pode ter a ver com a profissão”, que “a polícia nunca concluiu nada” e que “o Ministério Público nunca apresentou nada para a Ordem”. Virgínia revela que vários advogados trabalhistas estão se recusando trabalhar em ações novas. “Eles têm família, não tem segurança para andar ao lado e temem a possibilidade de serem assassinados”, desabafa.
O delegado de polícia Antonio Carlos Videira, do Departamento de Operações de Fronteira (DOF), órgão ligado à Secretaria de Segurança Pública, explica que “a pistolagem é bastante mutante” e que “a maioria dos crimes é praticada por pessoas que estão em território paraguaio”. “Elas ingressam no Brasil, praticam os crimes e, como se trata de fronteira seca, retornam para o País, onde ficam praticamente impunes. Em algumas situações, são até identificados, mas isso não significa que sejam capturados”, comenta. Para Videira, “existe uma fronteira para a polícia, mas não existe para o crime.” O delegado confirma que existem varias tabelas de preço para matar. “É como se fosse uma regra de mercado. Se a vítima for um profissional liberal, um policial, um advogado, um juiz, o preço será mais elevado porque o caso vai ter uma repercussão maior. Se a vítima for cidadão comum, o preço será menor porque essa pessoa escolhida estará mais vulnerável e a repercussão da morte será menor”, diz.
O delegado da Polícia Civil de Dourados Oduvaldo de Oliveira Pompeu, conhecido por “Telê”, foi o primeiro encarregado de apurar o caso do advogado Nilson. Mas se afastou das investigações, que tiveram um péssimo começo, alegando estar doente. Confidenciou que o caso, “difícil”, poderia ter desdobramentos perigosos e que ele não se considerava com segurança suficiente para apurá-lo. Precisaria de mais recursos e apoio. O delegado alegou necessitar de “inspeção médica”, em decorrência de problemas cardíacos, para afastar-se do caso.
Antes do caso Nilson Cruz, outros advogados, todos trabalhistas, foram assassinados. Um sobreviveu e vive em cadeira de rodas. Outro mudou-se definitivamente do Estado.
Ousadia domina a fronteira
PEDRO JUAN CABALLERO (Paraguai) — O governador do XIII Departamento de Amambay, Ramón Acevedo Quevedo, informou que o governo paraguaio firmou acordos de cooperação com a Polícia Federal brasileira e a DEA, a agência de combate às drogas dos Estados Unidos. Este mês será inaugurado um quartel da DEA em Pedro Juan. Os norte-americanos instalaram uma base militar dentro do território paraguaio, na região do Chaco. A fronteira brasileira continua extremamente vulnerável. A vigilância é nula ou precária.
Acevedo conta que a presença de agentes da DEA no Paraguai significará um reforço “substancial” na luta contra o ramo do crime organizado relacionado às drogas. Ele acredita que o contrabandista que reinou na fronteira durante muitos anos, Fuad Jamil, condenado como traficante de drogas a mais de 20 anos de reclusão pelo juiz federal Odilon de Oliveira, esteja dentro do Paraguai, “não muito longe”, mas que não exista “interesse” em capturá-lo. “Fui eleito governador como oposição”, informa, para explicar os limites de atuação fora de jurisdição.
A ousadia dos assassinos profissionais que infestam a fronteira chegou ao máximo em Capitán Bado, um dos principais refúgios de bandidos brasileiros e paraguaios, com a criação de um site macabro na internet, onde aparecem os corpos fotografados de vítimas de bárbaras execuções. Cabeças decepadas, corpos esquartejados, vísceras expostas e sinais de torturas até a morte são permanentemente expostos no site, onde aparece uma advertência inicial: “imagens fortes”. Outra frase entre as fotos sinistras: “Aqui você fica famoso depois de morto.” Também é mencionado o patrocínio da “Funerária Boa Viagem” e um esclarecimento: “Cobramos só a ida.”
As execuções são tratadas com extrema naturalidade na região, onde o crime embrutece cada vez mais, fica impune na maioria das vezes e oficializa permanentes ajustes de contas.
O governador Acevedo revela que existem muitos brasileiros no precaríssimo presídio da cidade paraguaia. E que ele possui informações de ramificações em seu país com o “el Primer Comando de la Capital”, o PCC que voltou a aterrorizar São Paulo. “Tenho informações sobre ações conjuntas”, conta o governador, relacionando essas atividades principalmente a assaltos de grande porte, contrabando de armas e tráfico de drogas. Muitos pistoleiros são vinculados à organização e agem na fronteira com freqüência. “São pagos para matar”, diz.
O quartel da DEA em Pedro Juan deve ser inaugurado simultaneamente a uma grande operação de repressão ao tráfico. A data está sendo mantida em segredo, mas é certo que a Polícia Federal brasileira vai participar com um grande aparato para apurar casos de lavagem de dinheiro, contrabando e tráfico de cocaína. (PS)


E EM SÃO PAULO.

30/03 - 09:01 - Agência Estado

O faturamento da facção criminosa Primeiro Comando da Capital (PCC) cresceu 511% em dois anos e meio.

Mesmo com todo o esforço das autoridades no combate ao tráfico de drogas e à lavagem de dinheiro patrocinados pelo crime organizado, o exército de criminosos chefiado por Marco Willians Herbas Camacho, o Marcola, lucra cada vez mais.

A organização, que já se havia transformado em atacadista no mercado de cocaína no País, agora dá os primeiros passos no tráfico internacional de entorpecentes e busca um acerto com as Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc).

O crescimento dos lucros da organização é atestado em contabilidade apreendida em 28 de fevereiro com Wagner Roberto Raposo Olzon, o Fusca, tesoureiro da facção. Ali, é possível verificar que, em 7 de janeiro, o PCC fechou seu caixa dos 30 dias anteriores com R$ 4,89 milhões arrecadados. Em 2005, quando policiais civis apreenderam a contabilidade da cúpula nas mãos de Deivid Surur, o DVD - que, mais tarde, foi obrigado pela facção a se matar na prisão -, as contas somavam R$ 800 mil mensais e preenchiam 18 páginas de caderno escolar. Agora, ocupam 33 páginas - quatro em forma de planilha.

As contas revelam que o PCC mantém um consórcio de advogados pagos para defender seus interesses. Há 21 profissionais da advocacia relacionados na contabilidade, com salários de até R$ 10 mil mensais. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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