domingo, 26 de julho de 2009

FOCOLARES = 50 ANOS DE BRASIL.


FOTO : CHIARA LUBICH E DOM HELDER CAMARA.



No final de abril de 1961, Chiara veio pela primeira vez e ficou hospedada na casa de José Adolfo e Lucy, em Recife.

Ali também se reuniram os focolarinos e focolarinas para serem informados sobre a vida do Movimento no Centro internacional e em todo o mundo. Naquela ocasião, Chiara sentiu a necessidade de que os focolares tivessem casas próprias que atendessem à exigência de serem pontos de referência para toda a comunidade do Movimento e para as iniciativas que não paravam de se multiplicar. Ela mesma circulou com alguns focolarinos por toda a cidade procurando casa, num velho carro Oldsmobile emprestado por um amigo dos focolarinos, ao qual ela chamou de Liberdade.


Na volta à Itália, ela escreveu, no aeroporto do Rio:
"Caríssimos focolarinos,
Estou aqui no aeroporto, com Lia e Lilu, à espera de partir.
Não posso deixar essa terra, que conheci pela primeira vez, sem mandar-lhes uma saudação.


Quando o avião decolava em Recife, olhando do alto aquelas palmeiras e aquele ambiente, onde vocês permaneciam por Jesus, fui tomada por um nó na garganta que durou por toda a viagem e me fez entender o quanto Jesus nos uniu a Ele, tanto quanto - e muito mais do que - numa família natural.
E me lembrei do pranto das irmãzinhas de Santa Clara quando ela partiu para o Céu, como confirmação de um amor sem confins que as unia a ela porque, com ela, tinham amado o Senhor.


Que coisa imensa é o Ideal (o carisma da unidade): o que Jesus não fez por nós! Amanhã, me encontrarei com os responsáveis no Centro (centro internacional do Movimento, em Rocca di Papa, Roma) e lhes comunicarei as impressões que me ficaram no coração, de cada um de vocês e com aquelas belas impressões do ambiente simples e tão semelhante à Palestina, que acolhe os seus focolares. Tenho a certeza de que vocês sentem o quanto estamos com vocês.


Agora, em frente!
O mundo pertence a quem o ama e que melhor sabe dar prova disso. Amem a todos, não julguem jamais, ofereçam a face direita a quem lhes bater a esquerda e será Ele, que nos une de um continente ao outro, que cuidará de juntar brasas ardentes sobre os inimigos e de fazê-los desmoronar diante da Obra de Deus.


E estejam felizes, porque vocês merecem. E então, se Jesus está com vocês, o Esposo está com vocês.
Deixo-os no Coração Imaculado de Maria. Unidíssima a todos, Chiara".
No dia 14 de abril de 1964, Chiara chega ao Brasil pela segunda vez. Define a organização do Movimento em Recife e encaminha a definição da organização em São Paulo. Vai conhecer a "Casa Lauretana" das focolarinas, o centro organizativo do Movimento na região, da qual ela diz ser a primeira de propriedade da Obra em todo o mundo.

No dia 17, ela presencia a ordenação sacerdotal de Giorgio Marchetti, um dos primeiros focolarinos, por parte de dom José Adelino Dantas, bispo de Garanhuns, no mosteiro beneditino em Olinda. Após o almoço com o bispo, Chiara vai ao túmulo de dom Carlos Gouveia Coelho, na catedral de Olinda, para rezar e agradecer. Ele tinha falecido há pouco mais de um mês e tinha sido um grande protetor da Obra no seu despontar.


Chiara fez com todos os focolarinos ali presentes o pacto de "procurar a Desolada", ou seja, um propósito para que todos procurassem perder tudo, a fim de terem Deus como único ideal da vida, como havia feito a mãe de Jesus diante da cruz. Um pacto que foi depositado, segundo Chiara, "naquele coração de carne destinado à ressurreição". E escreveu depois, de próprio punho, a meditação "Tenho uma só mãe na terra", que ela deixou na Casa Lauretana de Recife como a carta magna do focolarino.


De 30 de abril a 7 de maio de 1965, deu-se a terceira visita de Chiara ao Brasil. No dia 5 de maio, ela visita o terreno onde haveria de surgir a Mariápolis permanente. Lá mesmo, no dia seguinte, Chiara e o padre Foresi repetem um gesto mantido pela tradição de enterrar pequenas medalhas de Nossa Senhora nos locais onde se previa a construção das primeiras casas de uma obra da Igreja Católica. No dia da volta para a Itália, escreve no seu diário: "Hoje, partimos. Adeus Brasil! Ali, na tua terra, deixo também o meu pobre coração. Mas o que sei com certeza é que Maria veio aqui e te olhou com imenso amor".


Em abril de 1966, Chiara vem pela quarta vez e lança a primeira pedra do futuro Centro Mariápolis. No dia 28 de abril, é a vez da primeira pedra do Centro Regional masculino. O pergaminho colocado nas fundações traz esses dizeres: "Que Jesus esteja sempre presente entre os habitantes desta casa".


Chiara prossegue sua viagem para Buenos Aires. Na volta, se detém alguns dias em São Paulo e, olhando do alto a imensa cidade, dá ao Movimento nessa cidade a Palavra de Vida: "Não tenhas medo, pequeno rebanho, pois foi do agrado do vosso Pai dar a vós o Reino" (Lc 12,32).


Em 1970, não podendo ela mesma vir ao Brasil, Chiara envia o padre Foresi, que se encontra com todos os focolarinos na Mariápolis Araceli, recém-inaugurada.


Chiara marcou nova viagem ao Brasil para maio de 1983. No último momento, não podendo viajar, mandou Antonio Petrilli, um dos primeiros focolarinos, para representá-la.


Finalmente, no dia 12 de maio de 1991, Chiara volta ao Brasil depois de 25 anos e permanece 21 dias na Mariápolis Araceli: "Estou aqui para celebrar a plena atuação do pacto do amor mútuo, formulado nos primeiros tempos mais remotos entre nós focolarinos e vivido por Ginetta de modo superlativo; e para dar glória a Deus por essa realização.

Agora, sobre esse pequeno, grande acontecimento, tudo florescerá e acho que serão coisas grandes". Ela encaminha novos desenvolvimentos para a Mariápolis permanente com a deposição de 11 pequenas medalhas de Nossa Senhora nos lugares onde haveriam de surgir novas construções, entre as quais a igreja que seria dedicada a "Jesus Eucaristia, o Deus que nos abre o Paraíso".


E é nessa ocasião que Chiara tem a grande intuição daquilo que seria depois a Economia de Comunhão (EdC). Lemos no seu diário: "Penso que, se a Mariápolis deve ser um Reino de Deus, como de fato já é, a sua vocação é também a de apresentar-se ao mundo como uma pequena cidade inteiramente impregnada pela doutrina social cristã do século XX, ou seja, segundo a Centesimus annus, com as características típicas do nosso ideal: a unidade, a comunhão. Uma Mariápolis permanente dessas no Brasil, onde a discrepância entre ricos e pobres representa a chaga social por excelência, poderia constituir-se num farol e numa esperança".


No dia 24 de abril de 1998, Chiara volta ao Brasil e já pode inaugurar um fruto concreto da EdC, o Polo Empresarial Spartaco. E no dia 26, acontece a dedicação da igreja da Mariápolis Araceli, com a presença de 63 bispos. Chiara é também convidada a dar, no dia seguinte, seu testemunho junto à Conferência Nacional dos Bispos do Brasil, diante de quase 400 bispos em seu encontro anual em Itaici (Indaiatuba, SP), durante uma liturgia ecumênica.


Com dificuldades, por motivos de saúde, Chiara mal consegue receber os reconhecimentos públicos que lhe estavam reservados para essa ocasião. No dia 29 de abril, na Pontifícia Universidade Católica (PUC) de São Paulo, ela recebe, das mãos do reitor Antonio Carlos Ronca, o título de Doutor honoris causa em Ciências da Religião. No dia 30, o reitor da Universidade de São Paulo (USP), Jacques Marcovitch, lhe entrega em solenidade a Medalha de Honra ao Mérito.

No dia 12 de maio, é agraciada com outro Doutorado honoris causa em Economia pela Universidade Católica de Pernambuco (Unicap). Não podendo ela viajar até Recife, o reitor, Theodoro Peters, e a vice-reitora, Fátima Breckenfeld, se deslocam até a Mariápolis Araceli para proceder à cerimônia.


Poucos dias antes, em 3 de maio, sempre por causa da saúde, ela não tinha podido comparecer diante dos 11.000 membros do Movimento¬ de todo o Brasil, reunidos no Ginásio do Ibirapuera, em São Paulo, que, ansiosamente, esperavam vê-la e ouvi-la. Coube a Ginetta comunicar a dura notícia e lembrar a todos a escolha de Jesus Abandonado, marca registrada do nascimento e desenvolvimento do Movimento no Brasil. Um momento de grande comoção e tristeza... seguido de uma adesão sofrida, mas decidida àquela escolha, manifestada por um aplauso incontido e interminável.


Também em Recife, os membros do Movimento, reunidos na Mariápolis Santa Maria, esperavam a vinda de Chiara. Na sua mensagem, ela convidou todos a darem o mesmo passo como no Ibirapuera, com o "amor a Jesus Abandonado, que se transformou em Jesus Ressuscitado, experimentado, com todos os dons do Espírito Santo que ele emanava. (...)

Para mim, Recife é a Belém do nosso Movimento no Brasil. Foi do seu calor, do seu abraço à primeira semente que tudo nasceu. Se, nesses dias, aconteceu no Brasil tudo aquilo que aconteceu, é porque 40 anos atrás Recife entendeu! Portanto, não só amor a Recife, mas gratidão! (...) Com um abraço brasileiro a todos, Chiara".


Por fim, até o governo brasileiro lhe havia preparado o mais alto reconhecimento que pode ser conferido a um estrangeiro por serviços prestados à nação. Não podendo ir até Brasília, Chiara é condecorada em Roma, no dia 8 de outubro de 1998, com a prestigiosa Ordem do Cruzeiro do Sul, no Palácio Caetani, pelo embaixador do Brasil no Vaticano, Francisco Tompson Flores, em nome do Presidente da República Fernando Henrique.

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