sábado, 30 de agosto de 2014

RACISMO E GREMIO


Racismo de torcedora choca amigos negros. Família 'foge' de Porto Alegre
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Marinho Saldanha
Do UOL, em Porto Alegre

http://esporte.uol.com.br/futebol/campeonatos/copa-do-brasil/ultimas-noticias/2014/08/31/racismo-de-torcedora-choca-amigos-negros-familia-foge-de-porto-alegre.htm

  • Marinho Saldanha/UOL
    Casa onde mora Patrícia Moreira, que praticou por atos racistas contra Aranha
    Casa onde mora Patrícia Moreira, que praticou por atos racistas contra Aranha


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Patrícia Moreira era, até a última quinta-feira, mais uma torcedora do Grêmio que mora no bairro Passo das Pedras, zona norte de Porto Alegre. Com 23 anos, a loira jamais tinha dado qualquer indício do motivo pelo qual se tornaria nacionalmente conhecida: atos racistas. Tinha uma vida tranquila, trabalhava prestando serviço à Brigada Militar, com amigos negros e brancos. Até ser flagrada, aos gritos, chamando o goleiro Aranha de 'macaco', no duelo com o Santos pela Copa do Brasil. Hoje, sua casa está fechada, a família 'fugiu' da capital gaúcha, e os mais próximos se dizem chocados.

Mas o perfil de Patrícia desenhado pelos vizinhos e amigos em nada remete a jovem que vociferava contra Aranha. Os gritos de 'macaco', 'macaco', 'macaco', evidentes pelas imagens das câmeras da ESPN, vistas repetidamente no Brasil inteiro, jamais foram direcionados, por exemplo, a seu Pedro, vizinho que mora na casa da frente. A residência amarela, de madeira, da filha, esconde a casa de material construída nos fundos. Local em que Patrícia já esteve, amigavelmente, rodeada por amigos cujo tom da pele é idêntico ao do goleiro do Santos.

"Fiquei chocado [ao ver as imagens], no início não quis acreditar que era ela. Mas vendo que era, eu fiquei muito triste. Ela não é assim. Nunca foi. Conheço desde criança", disse o senhor de 63 anos, que há 60 reside no local. "Comigo nunca teve nenhuma atitude racista. É minha vizinha da frente. Nos cumprimentamos, conversamos, nunca foi aquela da televisão", completou.

Na casa da família, mais uma vez o destino prega uma peça em Patrícia. O vermelho, cor do arquirrival gremista, Internacional, está estampado. E o clube colorado também foi alvo de atos discriminatórios da jovem. Em foto publicada nas redes sociais, já deletadas rapidamente, ela aparecia segurando um macaco de pelúcia, que vestia a camisa do Inter. E na foto, segurando o macaco, ela fazia cara de nojo.

"Eu conheço a Patrícia sim. Ela nunca teve nenhuma atitude racista comigo ou com qualquer pessoa da minha família. É muito amiga do meu filho. Se conhecem há anos. Já veio aqui em casa", disse Miguel Chaves, também negro, vizinho de Patrícia. "Nunca imaginamos aquilo", completou.

Assustada pela repercussão do caso, a família de Patrícia optou por fechar a casa. Segundo relataram vizinhos, estão fora de Porto Alegre para 'fugir' de qualquer contato com a imprensa, mas retornarão para o depoimento. Chamada a prestar esclarecimentos, ela só falará na presença de um advogado, mas estará na 4ª Delegacia de Polícia na segunda-feira, tentando justificar os atos.

Os relatos de depredação da casa da moça são confusos. Entre os populares, ninguém viu o local ser apedrejado, não há registro policial ou mesmo marcas nas paredes. "Eu vi algumas pedras, mas não sei. Não vi atirarem", contou um vizinho que solicitou anonimato. "É uma covardia o que estão fazendo com ela. Estão colocando como se ela fosse um monstro. Não é verdade. Ninguém aqui em casa vai falar nada. Estamos do lado dela", completou.

O bairro, a rua, a vizinhança de Patrícia é, como todo o país, a cara da miscigenação. Brancos, negros, mulatos, índios, pardos, toda etnia possível está presente no local, onde dividem espaço casas de classe média com barracos bastante pobres.

Nenhuma voz se levantou lá contra Patrícia. Amigos negros, são muitos. Todos surpresos, tristes, mas ao mesmo tempo buscando mostrar que ela não é aquela da imagem. "Ela foi pelo momento, no embalo dos outros", finalizou Pedro.

Após confrontarem as imagens do sistema de câmeras da Arena com Patrícia e mais um acusado, a polícia gaúcha poderá abrir inquérito, que prevê julgamento da jovem. A pena para injúria racial vai de 1 a 3 anos de reclusão.

E antes disso as repercussões na vida pessoal já foram fortes. Xingada na internet, ela deletou todos perfis em redes sociais. Foi afastada do emprego como prestadora de serviço ao Centro Médico Odontológico da Brigada Militar. E carregará para sempre o peso do ocorrido naquela noite. Doeu em Aranha, envergonhou os gremistas, mas certamente não passou em branco na vida de Patrícia.

Grêmio faz o que pode

Juca Kfouri

O Grêmio está fazendo o que se espera de qualquer clube decente: identificou, comunicou as identificações à polícia e já puniu os que pode punir, por serem sócios da agremiação.
Mais que isso não pode fazer.
Como não pode ser responsabilizado pelos insultos de cinco cretinos numa plateia com mais de 30 mil pessoas.
Uma coisa é você punir um clube por falha na segurança de seu estádio.
Outra é punir pelo que dizem os frequentadores nos estádios.
Daqui a pouco o STJD vai querer que os clubes botem esparadrapo na boca dos torcedores.
Até porque, se a moda pega, daqui a pouco cinco imbecis torcedores do clube A vestem a camisa do clube B e agem para que este venha a ser punido.
O essencial é identificar os criminosos e puni-los.
O episódio de ontem é suficientemente deprimente para que ninguém queira surfar na sua onda.
Patrícia e seus blue caps já apareceram o bastante para a devida execração pública.

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