terça-feira, 31 de março de 2009

Um novo tipo de invasão de privacidade

Tão habituados estamos a determinados costumes e instituições da nossa civilização que geralmente os encaramos como coisas da ordem da natureza, quando, na realidade, são coisas criadas pelo homem. Não só apresentam um caráter cultural, na acepção antropológica do termo, como também um caráter histórico; são conquistas, algumas vezes bastante árduas e penosas, de um longo processo histórico.

Entre essas coisas, está certamente a dicotomia esfera pública / esfera privada. Em povos ágrafos ou pré-letrados essa distinção inexiste ou possui contornos borrados, porém em nossa civilização ela não só existe como, sob certos aspectos, não está na só na ordem dos mores: é marcada por uma legislação voltada para a proteção daquilo que é considerado inviolável: o direito de todo cidadão à sua privacidade.

Versão popular assaz corriqueira, embora imprecisa do mencionado direito, é: “Na minha casa, eu faço o que quero”. Evidentemente que, no espaço privado de sua casa, um indivíduo pode fazer determinadas coisas que ele está interditado de fazer em público. Por exemplo: andar completamente nu. Caso ele deseje fazer tal coisa fora de sua casa, sem incorrer em atentado ao pudor público, ele terá que procurar um campo de nudismo ou então ir passear ou tomar sol, - exatamente como veio ao mundo - no Hyde Park ou no Kensington Gardens em Londres, lugares em que tem plena vigência o Live and let live.

Porém, na esfera privada de sua casa, e em qualquer país civilizado, um indivíduo goza do direito de fazer tudo, com as exceções de coisas tais como espancar seus filhos e/ou sua esposa (concubina, caso seja ele amasiado), ligar um aparelho de som em alto volume após as 22h, entre outras coisas que ultrapassam os limites de seus direitos e ameaçam os do outro. Como dizia Oliver Wendel Holmes Jr., ex-Ministro da Suprema Corte dos Estados Unidos: “O direito de eu movimentar meu punho acaba onde começa o seu queixo”.

Mesmo gozando de determinados direitos relativos à sua esfera privada, o indivíduo continua tendo os mesmos deveres que tem na esfera pública, aos que se acrescentam direitos gerados pela proteção de sua privacidade. Por exemplo: é considerada uma invasão de privacidade a polícia entrar na sua casa e/ou seu escritório, a menos que os policias disponham de mandado judicial, uma garantia contra possíveis atos arbitrários praticados pela autoridade policial.

Suponhamos agora uma situação bastante comum nas nossas vidas. Você está em seu escritório trabalhando ou mesmo em sua casa, na sua santa paz, gozando momentos de lazer, quando, repentinamente, soa o telefone. Ás vezes, sua vontade de permanecer trabalhando tranqüilamente ou desfrutando do prazer proporcionado pela audição de uma boa música é tão grande que você chega a pensar em não atender ao telefone; deixar que o mesmo fique tocando até quem telefonou desligar.

Mas você não sabe quem está do outro lado da linha e nem muito menos o que seu interlocutor tem a lhe dizer. Pode ser algo urgente ou mesmo um grande amigo desejando se comunicar com você e tendo coisas importantes a lhe contar. Assim sendo, com base na prudência,você toma a decisão de atender à chamada telefônica.

Dentro de breves momentos, antes mesmo de se tornar explícita a mensagem do interlocutor, você fica bastante decepcionado de ter atendido. Uma voz chata e estereotipada deixa claro que se trata de mais um atentado à sua privacidade, pois se trata de um(a) teleoperador(a) do tal do telemarquetingue (Diz-se telemarketing, em inglês) – o quinto do dia a lhe abespinhar com sua pegajosa baba de quiabo ou retórica menor, de modo a tentar lhe vender qualquer coisa na suposição idiota de que você está querendo comprar.

Pensando bem, a referida suposição não é exatamente uma idiotice, pois uma mensagem publicitária de qualquer tipo geralmente é elaborada com base em pesquisas sobre os desejos e preferências do consumidor e se satisfaz com as estatísticas. De tal modo que se ela descobriu que está indo ao encontro de, digamos, 90% dos consumidores em seus desejos e aspirações, pouco importa o que pensam e sentem os restantes 10%, considerados uma irrelevante e desprezível minoria.

Mas se você - tal como eu mesmo - faz parte dessa minoria; se você é desses indivíduos que não estendem a mão para pegar papeletas na rua – não quer aprender inglês nem espanhol em seis meses, não quer dinheiro emprestado por agiotas, nem muito menos que madame Zara leia a sua mão – você sabe que perderá seu precioso tempo contra-argumentado com um(a) operador(a) de telemarquetingue, pois ele ou ela já foram treinados a ter respostas para tudo, ainda que as mesmas sejam as mais pífias e esfarrapadas ...do ponto de vista da minoria de 10%, é claro.

Neste caso, quando sua privacidade for invadida muitas vezes ao dia por um “vendedor telefônico” e você já estiver de saco cheio, faça como eu. Após ter escutado intermináveis charumelas e ter meus delicados e críticos ouvidos entupidos por papos de vendedor, adotei um procedimento-padrão: tão logo detecto de que se trata - coisa aliás que não demora muito tempo - bato com o fone no gancho.

Porém não sem antes dizer, para o espanto de ocasionais pessoas ao meu lado: o que quer que você queira me vender, eu não quero comprar! Ou mais sinteticamente: Obrigado, não quero! Ah! Se todos fizessem o que faço... Mas ainda que ninguém fizesse isso, certamente eu não me importaria nem um pouco de ser uma ilustre exceção.

Mario Guerreiro é doutor em Filosofia pela UFRJ. Professor Adjunto IV do Depto. de Filosofia da UFRJ. Ex-Pesquisador do CNPq. Ex-Membro do ILTC [Instituto de Lógica, Filosofia e Teoria da Ciência], da SBEC.

sexta-feira, 20 de março de 2009

Vítimas de desabamento querem processar Renascer




Sobreviventes e parentes das vítimas do desabamento do teto da sede internacional da Renascer se preparam para mover ações contra a igreja. A família da aposentada Luíza da Silva, de 62 anos, responsabiliza a direção da igreja pela morte da fiel e reclama da pressa para a reconstrução da nova sede. "Eles (dirigentes) vão reconstruir uma igreja nas costas do povo. Não vou deixar barato", desabafa a operadora de telemarketing Maria José da Silva, de 54 anos, sobrinha da vítima.

Maria afirma que a tia frequentou os cultos da Renascer por 14 anos, recebia um salário mínimo e mantinha doações mensais superiores a R$ 130. "Ela era fervorosa, praticamente uma beata", lembra a sobrinha. Segundo Maria, desde que o jogador Kaká fez uma doação de 200 mil euros para a igreja no ano passado, Luíza se viu incentivada a lançar um grande desafio em nome da fé: juntar R$ 10 mil para doar à Igreja (além da contribuição mensal). A fiel chegou a economizar R$ 3 mil.


Embora a igreja tenha arcado com as despesas do funeral da tia, Maria diz que, no velório, pastores especularam sobre os bens deixados pela aposentada e chegaram a perguntar se a vítima havia deixado algo para ser doado à Igreja. "Sabiam que ela era sozinha e não tinha filhos nem marido", disse. Para Maria, os raros contatos com os representantes da Igreja desde a morte da tia eram tentativas de convencer a família a evitar uma ação civil. "Eles queriam que a gente não entrasse com a ação", afirma.


A ex-professora Olga Donoso, de 59 anos, sobrevivente do desabamento, está decepcionada com a Renascer. Olga, que era amiga de Luíza, é uma das testemunhas do desabamento parcial do teto da Igreja no dia 14 de janeiro, quatro dias antes da tragédia que matou nove e deixou mais de 100 feridos. Pedaços de gesso da estrutura caíram sobre ela e outro fiel, mas só causaram leves escoriações. Ela diz que o incidente aconteceu durante um culto liderado pelo deputado federal Geraldo Tenuta Filho, conhecido como bispo Gê. Segundo Olga, no dia seguinte um advogado da igreja ligou para saber sobre seu estado de saúde. "Achei estranho o advogado ligar", comentou.


No domingo (18 de janeiro), ao entrar na sede, Olga percebeu que a parte que cedeu dias antes não havia sido consertada. "Ninguém tinha feito nada, o buraco no teto ainda estava lá. Pensei comigo: será que tem perigo de cair?", conta. Vítima pela segunda vez, Olga teve traumatismo craniano, luxação no pé direito e o pé esquerdo teve de ser totalmente reconstruído. Ela segue em recuperação, numa cadeira de rodas, sem previsão de voltar a andar.


Empresa


De acordo com a ex-professora, a igreja ofereceu ajuda de uma psicóloga para seu filho (que se revoltou depois que um pastor teria se negado a testemunhar sobre o primeiro acidente) e alguém para auxiliá-la nos afazeres domésticos. A família ainda tentou pedir ajuda financeira à igreja, mas como havia uma grande fila no local anunciado e muitos tiveram seus pedidos negados, conta Olga, a família preferiu entrar com uma ação judicial e só aguarda o término do inquérito para oficializar o processo. "A Renascer é uma empresa e vai responder como empresa", afirma.


Após mais de 10 anos frequentando os cultos da Renascer, Olga se sente desgostosa com a igreja. Para ela, houve negligência e imprudência. "Eles não poderiam ter falhado nessa parte. Eles ganham dinheiro, damos sempre dízimos para suprir as necessidades da igreja. Deveriam cuidar da nossa segurança dentro da igreja porque nunca falhamos com eles", reclamou.


Entre os fiéis, no entanto, nem todos questionam a igreja. A dona de casa Elisete Cunha, de 50 anos, uma das sobreviventes do desabamento, voltou a frequentar os cultos, promovidos agora em um local próximo da estação Bresser do Metrô. "Estamos chateados pela perda do templo, das pessoas, não com o pessoal da igreja. Para mim foi uma fatalidade", diz.


Membro da Igreja há cinco anos, ela não cogita mover ação contra a Renascer e já aderiu à campanha para construção da nova sede. "O templo era minha casa. Se a sua casa caísse, você não reconstruiria?", questiona. Elisete não quis revelar o valor de sua doação, mas está ansiosa para ver o novo templo. "O quanto antes (reconstruir), melhor."

UOL Celular


Mãe e filha morrem em desabamento da Renascer
Mulheres de 79 anos e 60 anos serão enterradas em Osasco.
Os corpos de seis vítimas deixaram o IML por volta das 10h30.

Patrícia Araújo
Do G1, em São Paulo.


Mãe e filha morreram no desabamento da Igreja Renascer com Cristo no Cambuci, Zona Sul de São Paulo, na noite deste domingo (18). Segundo a assessoria da Secretaria da Segurança Pública, Maria Amélia de Almeida, de 60 anos, e Acir Alves de Silva, de 79 anos, serão enterradas às 17h desta segunda-feira (19) no Cemitério Bela Vista, em Osasco, na Grande São Paulo.

Por volta das 10h30, seis dos sete corpos que estavam no Instituto Médico-Legal (IML) Central de São Paulo já tinham sido levados do local. Além da mãe e da filha, os outros cinco mortos também serão enterrados nesta segunda nos cemitérios da Saudade, em São Miguel Paulista, Chora Menino, em Santana, e no Araçá. O sétimo corpo que permanece no IML ainda não foi identificado.

No final da manhã, ainda segundo a assessoria da secretaria, os corpos das duas outras vítimas fatais do desabamento – Luiza Silva, de 62 anos e Maria de Lurdes, de 78 anos – ainda não tinham sido liberados pelos hospitais Santa Casa de Misericórdia e Hospital das Clínicas, respectivamente, e encaminhados para o IML.

Feridos

Além dos nove mortos, 93 pessoas ficaram feridas no desabamento do teto da Igreja Renascer com Cristo na Zona Sul da capital paulista. O Corpo de Bombeiros de São Paulo informou que cerca de 600 pessoas estavam no local quando o teto desabou, pouco antes do culto das 19h de domingo. Os bombeiros permaneciam fazendo buscas por possíveis vítimas do desabamento no início da manhã desta segunda. De acordo com a corporação, 15 equipes estavam no local.

Segundo os bombeiros, um homem de cerca de 40 anos que foi dado como desaparecido pela família é procurado no local. De acordo com os familiares, a possível vítima costumava ir ao culto e não foi encontrada. Não há confirmação, mas os bombeiros trabalham com a hipótese de que ele pudesse estar no templo. O homem também é procurado nos hospitais para onde foram levadas as vítimas.
Oito imóveis vizinhos ao templo foram interditados pela Defesa Civil da Prefeitura da cidade após o desabamento. Os imóveis foram interditados pois há risco das paredes laterais do templo, que apresentam rachaduras, desabarem e atingir as edificações vizinhas.

De acordo com a Secretaria de Segurança Pública, há feridos em 15 hospitais e dois pronto-socorros em diversos pontos da capital. Muitos tiveram fraturas múltiplas, inclusive com afundamento de crânio e membros. Nesta madrugada, de acordo com a secretaria, algumas vítimas continuavam internadas em observação e outras tinham sido liberadas.

Imprensa internacional noticia desabamento da Renascer em SP
A 'CNN' destacou a notícia do desabamento na primeira página do site.
O 'Herald Tribune' lembrou que o jogador Kaká se casou na igreja.

Do G1, em São Paulo

A imprensa internacional noticiou o desabamento da Igreja Cristã Apostólica Renascer em Cristo, em São Paulo, neste domingo (18), que deixou até agora oito mortos e quase uma centena de feridos.


Com chamada na primeira página do site, a nota da “CNN” destacava informações do Corpo de Bombeiros sobre o número de mortos e feridos no local. Uma imagem ilustrava a reportagem, mostrando o trabalho dos bombeiros na madrugada desta segunda-feira (19).

Já o “New York Times” publicou informações do governador de São Paulo, José Serra, sobre o acidente, e enfatizou que o templo pode abrigar até dois mil fiéis.


A “BBC”, por sua vez, divulgou um vídeo com imagens da tragédia. Na nota, a rede britânica lembra que os líderes da Renascer, Estevam Hernandes e Sônia Hernandes estão presos nos Estados Unidos, cumprindo pena por conspiração e contrabando de dinheiro.

O “Herald Tribune”, que também noticiou o acidente, destacou que foi na igreja que desabou que o jogador Kaká do Milan se casou em 2005.


Renascer: 60 pessoas estavam no local do desabamento

Cerca de 60 pessoas estavam no prédio da Igreja Cristã Apostólica Renascer em Cristo, no Cambuci, na zona sul de São Paulo, quando o teto do imóvel desabou, por volta das 19 horas desta noite, segundo informações da assessoria da Renascer. Dos 35 feridos, seis estariam em estado grave, e uma pessoa morreu.


A igreja, considerada a segunda maior denominação neopentecostal brasileira, foi fundada em São Paulo em 1986, por Estevam Hernandes e Sônia Hernandes. A Igreja Renascer controla hoje uma rede de TV, uma gravadora, rede de rádio, uma editora e possui a Fundação Renascer, mantenedora de suas obras assistenciais.

Estima-se que haja hoje cerca de 1.500 templos espalhados por todo o Brasil e países como Argentina, Uruguai, Estados Unidos, Espanha, Japão, entre outros, somando mais de dois milhões de fiéis.

A Igreja Renascer também foi palco do casamento do meia-atacante do Milan, Kaká, de 26 anos, e Caroline, em dezembro de 2005.